segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A Genesis in my Bed - the autobiography


 

Steve Hackett talvez seja um dos guitarristas mais subestimados da história do rock. Apesar de ser um músico e compositor extremamente talentoso, que navega facilmente entre estilos tão diferentes quanto rock progressivo, pop-rock, neo-clássico e blues, ele não tem o mesmo espaço na mídia que outros mestres da guitarra, como Joe Satriani ou David Gilmour, e raramente é reconhecido como o gênio que é, exceto pelos seus fãs - por exemplo, pouca gente sabe que ele inventou o tapping e influenciou músicos como Brian May e Eddie van Halen. 

Em parte, isso se deve à sua personalidade. Além de tímido e avesso à fama, ele é um perfeito cavaleiro britânico, sempre sereno, calmo e educado, por vezes melancólico. E sua autobiografia retrata esse lado de sua personalidade com perfeição. 

Por seu escrito pelo próprio Hackett, o livro não tem a abordagem jornalística tão comum em biografias e autobiografias escritas à quatro mãos. Pelo contrário, ao ler o livro o leitor tem a nítida impressão de estar lendo um diário pessoal ou de estar em um bate-papo íntimo e pessoal. 

Steve começa contando sua difícil infância na Londres pós-guerra - embora sua família não fosse pobre, eles também não tinham luxos - e a experiência traumática em um internato londrino. Foi durante a infância que surgiu sua paixão pela música, primeiramente com a gaita e depois com o violão. 

Após contar suas experiências na adolescência, que incluem corações partidos, ele narra meticulosamente seu teste para se tornar guitarrista do Genesis, e seus sete anos com a banda. É interessante acompanhar nestes capítulos não apenas a maneira como Steve narra seu desenvolvimento como músico e compositor, mas sua visão, sempre muito educada, da dinâmica da banda. E mesmo quando faz alguma crítica a um de seus companheiros, elas sempre são muito educadas e nunca levadas para o lado pessoal.

Ele dedica um capítulo inteiro à seu primeiro disco solo, Voyage of the Acolyte, lançado em 1975 e gravado durante o breve hiato da banda após a saída de Peter Gabriel, e outro à sua saída do Genesis em 1977 após a turnê Seconds Out. 

Os capítulos seguintes são dedicados à gestação e solidificação de sua carreira como artista solo, durante o final da década de 1970 até o início de 2020, e traz abordagens detalhadas de seus discos, suas colaborações com diversos músicos, como seu irmão mais novo John Hackett, com o também guitarrista Steve Howe (Yes e Asia) no projeto GTR (1986), e com o baixista do Yes, Chris Squire, no projeto Squackett, do qual nasceu o belíssimo álbum A Life Within a Day (2012).

Ainda que o foco do livro seja sua música, durante toda a narrativa Steve intercala comentários e histórias de sua vida pessoal, incluindo seus casamentos, e algumas anedotas hilárias, como sua primeira visita ao Brasil no final dos anos 70, que incluiu uma viagem em um táxi caindo aos pedaços do Rio de Janeiro a Petrópolis pela serra, e uma visita a um terreiro de macumba! 

Em resumo, A Genesis in my Bed é um livro bastante interessante para fãs do Genesis e de Steve interessados em conhecer um pouco mais sobre o processo criativo e a vida pessoal de um dos guitarristas mais talentosos da música contemporânea.


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