quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Resenha: Hell Spawn, de Declan Finn


O detetive da Divisão de Homicídios da NYPD, Thomas Nolan, não é um policial comum. Em uma profissão famosa por transformar idealistas em cínicos e fomentar crises pessoais, ele consegue manter sua fé em Deus e na humanidade. Ele é um homem decente e honesto, que acredita na lei e na ordem. E além de ser católico romano praticante - e justamente por isso - ele consegue ver muitos dos criminosos com os quais lida diariamente em seu distrito no Queens como pessoas essencialmente boas que se desencaminharam em decorrência de decisões ruins tomadas ao longo de suas vidas. Ao contrário de muitos outros protagonistas de dramas policiais, que tendem a ser violentos ou desajustados, Thomas Nolan é um santo. 

E, neste caso, literalmente: durante o que parecia ser mais um dia de trabalho, Thomas passa a desenvolver certos dons ou carismas comuns aos santos, como bi-locação e capacidade de sentir presenças sobrenaturais através de seu olfato - habilidades que lhe serão muitos úteis na investigação de uma série de assassinatos incomuns e ritualísticos que vêm ocorrendo no Queens. 

Com uma fantástica mistura de drama policial, terror e fantasia urbana, o autor Declan Finn apresenta o primeiro livro da série Saint Tommy, NYPD, publicado em novembro de 2018 e que já conta com sete volumes (o oitavo será lançado no final de janeiro de 2021).

O livro é narrado em primeira pessoa, com um estilo fluido e agradável, diálogos bem construídos e personagens com personalidades definidas e distintas, como o parceiro de Nolan, o detetive Alex Packard, que é dotado de um senso de humor sarcástico e, por vezes, bastante debochado. 

O autor também consegue transmitir de maneira bastante palpável a sensação do mal que espreita sobre Nolan e sua vizinhança, e suas descrições de pessoas e locais são sempre vívidas e detalhadas. 

Por exemplo, a cidade de Nova York, mais precisamente o distrito do Queens, onde o protagonista (e também o autor) vive e trabalha, é mostrada de maneira fiel e precisa, não apenas em seu aspecto urbano e arquitetônico, mas em suas características comunitárias bastante peculiares e completamente diferentes de Manhattan, por exemplo. As cenas de crime são descritas com detalhes suficientes para mostrar ao leitor todo o horror de um homicídio, mas sem jamais exagerar na sanguinolência e nunca de maneira mórbida. 

As cenas de luta e ação - e há várias delas em todo o livro, que vão desde brigas até tiroteios cinematográficos - são bastante viscerais, até pelo fato do detetive Nolan ser praticante de Krav Magá, um estilo de luta voltado a colocar seu oponente fora de combate da maneira mais rápida possível - porém reconheço que as descrições de lutas golpe a golpe podem ser um tanto quanto cansativas para alguns leitores.  

Como tanto o protagonista quanto o autor são católicos, essa visão de mundo cristã se faz presente em todo o livro, mas sempre de maneira natural ao personagem. Em outras palavras, não há "pregação" na história, e acredito que leitores de outras fés ou crenças não terão problema algum em apreciá-lo. 

Em suma, Hell Spawn é recomendo para quem procura uma excelente mistura de fantasia urbana, horror e drama policial, com um protagonista simpático, decente e honrado.


 


 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário